Vacina contra varíola dos macacos chega neste mês ao Brasil

O Ministério da Saúde anunciou que as primeiras doses da vacina que protege contra a monkeypox, doença conhecida como varíola dos macacos, devem chegar ao Brasil ainda em setembro.

“E a boa notícia é que podemos fracionar essas doses em até cinco partes. Com isso, podemos beneficiar um número maior de pessoas”, disse.

Queiroga também deixou claro que a vacina não será indicada para todo mundo. “A princípio, [ela será oferecida] para quem teve contato com material contaminado ou indivíduos de maior risco”, apontou.

O ministro da Saúde lembrou que “a doença é mais prevalente em homens que fazem sexo com outros homens, mas qualquer pessoa que teve contato pele com pele ou mucosa com mucosa com alguém infectado pode adquirir [o vírus]” e “não há motivos para estigmatizar”.

Entenda a seguir quais vacinas são utilizadas e quem podem ser os primeiros a tomar as doses.

Que vacina é essa?

Há cerca de uma década, a farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic desenvolveu um imunizante a partir do vírus vaccinia, que pertence à mesma família do smallpox (o causador da varíola humana) e do monkeypox.

Nos Estados Unidos, ela é conhecida como Jynneos. Já na Europa, o nome deste produto é Imvanex.

A virologista Clarissa Damaso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que os patógenos deste grupo (os orthopoxvirus) costumam conferir uma espécie de “proteção cruzada” — se você se infecta com um deles, o sistema imune gera uma resposta capaz de bloquear a invasão dos demais.

“Algumas cepas do vaccinia são pouco virulentas, o que as torna um alvo frequente de estudos para novas vacinas”, diz a especialista.

O imunizante da Bavarian Nordic, que começou a ser utilizado em larga escala nos últimos meses para conter o monkeypox em algumas partes do mundo, se vale justamente dessa estratégia: ela traz o vírus vaccinia atenuado (mais “fraquinho”), que vai promover justamente essa imunidade cruzada.

“Trata-se de um vírus tão atenuado que ele nem consegue se replicar nas células humanas. Mesmo assim, ele gera uma resposta imune que protege contra o monkeypox”, explica Damaso.

A Jynneos/Imvanex é aplicada num esquema de duas doses, com um intervalo de quatro semanas entre a primeira e a segunda.

Algumas autoridades locais estão optando por dar apenas uma dose por pessoa, dada a escassez desse imunizante no momento atual.

No Brasil, segundo as últimas informações divulgadas pelo ministro Queiroga, a tendência é que se respeite o esquema de duas doses do produto da Bavarian Nordic.

Além desta vacina, os Estados Unidos possuem uma segunda opção disponível, conhecida como ACAM2000. Ela, porém, não pode ser utilizada em alguns grupos com problemas no sistema imunológico.

Além desses dois recursos, há estudos demonstrando que pessoas vacinadas contra a varíola humana, causada pelo vírus smallpox, também estão mais protegidas do monkeypox.

Como o smallpox foi erradicado e não circula mais pelo mundo, a produção desses imunizantes em específico foi completamente paralisada e a campanha de vacinação não acontece desde o início dos anos 1980.

Mesmo assim, pessoas com mais de 40 anos que tomaram as doses contra a varíola humana durante a infância parecem manter um bom nível de proteção agora.

Queiroga também comentou que há um candidato a imunizante brasileiro na fase de estudos que poderá ser utilizado no futuro.

Ele foi desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, se necessário, será fabricado no Instituto Biomanguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).

Segundo o ministro, essa pode ser uma alternativa “se houver indicação de vacinação para um grupo maior de pessoas”.

Que países já iniciaram a campanha e quais são os públicos-alvo?

A vacinação contra o monkeypox começou por Europa e América do Norte.

O Reino Unido, que também oferece o imunizante, definiu três grupos como prioritários para receber as doses neste momento:

  • Profissionais de saúde que estão lidando com pacientes diagnosticados com monkeypox. Nesse caso, são oferecidas duas doses.
  • Gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens com alto risco de exposição ao vírus. O indivíduo deve conversar com o médico, que vai indicar a vacinação de acordo com alguns critérios. Nesse grupo, é aplicada apenas uma dose, com a possibilidade de dar uma segunda no futuro.
  • Pessoas que tiveram contato próximo com um paciente infectado com o monkeypox. Nessa situação, as clínicas também estão dando apenas uma dose, que deve ser aplicada o quanto antes (idealmente, em até quatro dias após o contato).

Ainda não está claro se esse mesmo esquema será seguido no Brasil. O Ministério da Saúde deve divulgar mais informações ao longo das próximas semanas.

A médica Isabella Ballalai, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que dar prioridade a alguns grupos faz sentido.

“Vacinação é estratégia. Precisamos pensar primeiro nos grupos de maior risco, como aqueles em que o vírus circula com mais intensidade, os indivíduos estão mais expostos ao patógeno ou podem ter efeitos mais graves da doença”, explica.

No caso dos imunizantes contra o monkeypox, a boa notícia é que eles bloqueiam a transmissão do vírus e impedem que a pessoa se infecte.

“E nós sabemos que a resposta imune gerada é muito duradoura”, complementa Damaso.

Sobre a possível fabricação de doses em território nacional, a médica destaca que isso envolve etapas bem criteriosas e demoradas.

“O processo não é tão simples assim. É preciso ter fábrica e cumprir uma série de exigências regulatórias para garantir as condições de fabricar as doses”, pontua Ballalai.

“Precisamos ter em mente que, quando a vacina vier, ela não será para todo mundo. Precisamos proteger os grupos de maior risco primeiro”, complementa a médica.

Enquanto a vacina não chega, a recomendação dos especialistas é ficar atento aos principais sintomas da doença, como o surgimento de feridas, manchas, irritações, pústulas ou espinhas na pele, especialmente na região dos genitais, do ânus, da face ou dos braços.

Caso esses sinais apareçam, vale procurar um médico para fazer o diagnóstico. Se os exames confirmarem a presença do monkeypox, a principal orientação é ficar em isolamento, com o mínimo de contato com outras pessoas, até que as feridas sumam completamente. Isso diminui a circulação do vírus e evita a criação de novas cadeias de transmissão na comunidade.

De acordo com a plataforma o portal Our World In Data, da Universidade de Oxford (Inglaterra), até o momento o mundo registra 62,2 mil casos de monkeypox. Desses, 6,8 mil foram diagnosticados no Brasil.

Nas últimas semanas, a progressão de casos sofreu uma desaceleração importante e entrou num platô. Os especialistas em saúde pública acompanham as estatísticas para entender se os números começarão a diminuir ou voltarão a aumentar em breve.

Fonte: Correio Braziliense / Foto: Débora F. Barreto-Vieira/IOC/Fiocruz

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